domingo, 22 de junho de 2008

Ecofeminismo

O ecofeminismo vê a dominação ao qual a mulher foi sujeitada assim como outras raças (índios e negros) e seres mais fracos, paralelamente a dominação e usurpação da natureza e de suas riquezas. Uma vez que entre os povos primitivos, segundo alguns historiadores, sempre houve uma forte conexão entre a mulher e a natureza, através do culto ao feminino e a Terra em si como símbolo maior deste princípio.Esta visão sacralizada da natureza percebia o homem como parte dela e este em troca lhe tratava com respeito e cordialidade, com o carinho de um filho para com a sua mãe. Na medida em que a natureza foi perdendo este seu carácter sagrado paralelamente iniciou sua exploração.
Os valores patriarcais de dominação e centralização de poderes logo começaram a ser sentidos também pelas mulheres dando prosseguimento a mesma associação anterior, só que de forma diferente onde a mulher, assim como a natureza, tornou-se mera propriedade masculina. O actual resgate fruto da mudança de paradigma possibilita a homens e mulheres repensarem essa relação histórica entre si e com a Terra.
A recuperação do princípio feminino se baseia na amplitude. Consiste em recuperar na Natureza, a mulher, o homem e as formas criativas de ser e perceber. No que se refere à Natureza, supõe vê-la como um organismo vivo. Com relação à mulher, supõe considerá-la produtiva e ativa. E no que diz respeito ao homem, a recuperação do princípio feminino implica situar de novo a ação e a atividade em função de criar sociedades que promovam a vida e não a reduzam ou a ameacem. (Shiva, 1991, p.77 apud Siliprandi, 2000, p.65).

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Grande Pã morreu


“Certos autores nos afiançam que, pouco antes da vitória do cristianismo, uma voz misteriosa corria pelas margens do mar Egeu, clamando:
- O Grande Pã morreu!
O antigo Deus universal da natureza se extinguira. Grande alegria. Imaginava-se que, morta a natureza, estava morta a tentação. Por tanto tempo atormentada, a alma humana ia enfim repousar.
Era simplesmente do fim do antigo culto, de sua derrota, do eclipse das velhas formas religiosas que se tratava? De maneira alguma. Consultando os primeiros monumentos cristãos, encontramos em cada linha a esperança de que a natureza fosse desaparecer e a vida, extinguir-se; aproximava-se, enfim, o fim do mundo. Estão liquidados os deuses da vida, que haviam prolongado por tanto tempo sua ilusão. Tudo cai, desmorona, deteriora. O tudo torna-se o nada:
- O Grande Pã morreu!” (A Feiticeira, de Michelet)

Não era nenhuma novidade que os deuses tivessem de morrer. Muitos cultos antigos se fundam precisamente na idéia da morte dos deuses. Osíris morre, Adônis morre e também Jesus teve que morrer. Mas nos Mistérios Antigos, os deuses ressuscitam e renascem, ainda mais fortes do que quando se foram.
No Mitos, o Grande Deus, personificado pelo sol, morria, se sacrificando, doando assim a sua energia para a Grande Deusa, que está grávida, e com o nascimento da criança a terra se torna fértil novamente. A Deusa é personificada pela lua, e assim como no Mitos, é quando o sol morre, que a lua se torna mais forte.
Com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi morta, e o mundo testemunha o sepultamento dos velhos costumes; o prazer passou a ser visto como pecado e a mulher como porta para o inferno. Osíris foi assassinado por aquele que deveria ser seu irmão, e Seth reina durante a sua passagem pela terra dos mortos. A deusa é reconhecida como a Isis Negra.
Antes do filho do pássaro nascer e voar precisa forçar a casca do ovo que o aprisiona. O ovo é destruído, mas um novo mundo se abre diante dos olhos do filhote. A terra está grávida e um novo mundo deverá nascer, a sua dor e o “sacrifício” dos deuses antigos a fortificam, a força já foi doada. E é com toda essa força que a Deusa trabalha. Pã, os instintos e a sabedoria da carne, aguardam o seu nascimento, a Deusa está ceifando e arando a terra, no submundo, a semente aguarda.

terça-feira, 3 de junho de 2008

"Nenhum homem aceita ser deixado por uma Mulher no Iraque"

Leila Hussein viu o marido asfixiar e apunhalar a própria filha de 17 anos há cerca de um mês e meio. O homem decidira que a jovem merecia morrer porque tinha desonrado a família ao falar em público com um soldado britânico em Baçorá. Incapaz de suportar a dor de dormir na mesma cama com o assassino da filha, Leila deixou Abdel-Qader Ali, não sem antes ser espancada e deixada com um dos braços partido. Fugiu e recebeu apoio de organizações não governamentais que fazem campanha contra os crimes de honra. Esperava encontrar-se com um contacto que a iria ajudar a viajar para a capital da Jordânia, Amã, a 17 de Maio. O encontro nunca aconteceu. Leila foi atingida com três tiros, disparados por desconhecidos, e morreu no hospital apesar das tentativas que foram feitas para a manter viva. "Nenhum homem aceita ser deixado por uma mulher no Iraque. Mas eu preferia ser morta durante o sono do que dormir na mesma cama com um homem que foi capaz de fazer o que ele fez à minha filha" , disse Leila ao Observer, em Abril, o mesmo jornal britânico que ontem avançou com a notícia da sua morte. Quando decidiu pedir refúgio junto da organização em causa, Leila, de 41 anos, começou a receber ameaças de morte e bilhetes que lhe chamavam prostituta. Até os filhos, Hassan e Haydar, de 23 e 21 anos de idade, respectivamente, a abandonaram completamente.
Quanto ao marido, esse, continua em liberdade e, diz o semanário, até foi felicitado pela polícia por ter zelado pela honra da sua família.
(...)Apesar do trabalho das activistas dos direitos das mulheres ser inaceitável na sociedade iraquiana, havendo registo de pelo menos duas mortes, em Fevereiro de 2006, os relatos de Mariam e Faisal, que ficaram apenas feridas, apontam no sentido de uma execução de Leila. "Quando estavam a disparar, concentravam-se nela e não em nós." (...)