sábado, 16 de janeiro de 2010

Na terra dos crentes, o diabo tem nome africano

“Houve, com o decorrer dos séculos, um sincretismo religioso, ou seja, uma mistura curiosa e diabólica de mitologia africana, indígena brasileira, espiritismo e cristianismo, que criou ou favoreceu o desenvolvimento de cultos fetichistas como a umbanda, a quimbanda e o candomblé”. (Orixás, Caboclos & Guias – deuses ou demônios ?, 15° edição, cap. 1, pág. 13).
No livro “Orixás, Caboclos e Guias – deuses ou demônios ?”, Edir Macedo expõe a sua visão, e a de muitos cristãos, sobre o que representam as religiões afro-brasileiras em nossa sociedade. Mas, engana-se quem pensa que foi Edir Macedo o primeiro a demonizar essas religiões. Diversos outros pregadores, protestantes e católicos, já travaram lutas contra as “forças das trevas”.

Os cristãos, e em especial os evangélicos, geralmente, reivindicam para si a exclusividade da “comunhão com Deus”, desconsiderando os ensinamentos das outras religiões e filosofias.

Atualmente, vemos pregadores evocando os orixás em cultos exorcistas como se estivessem evocando o próprio Satanás. Pessoas em transe psicótico embravejam dizeres que teriam como autores “entidades” como Exu, Oxossi, Olorun, etc... Milhões de pessoas ainda acreditam que as religiões afro-brasileiras são religiões “satânicas”, e que devem as suas precariedades e sofrimentos às suas origens africanas. No aurora do século XXI, assistimos ao recrudescimento do preconceito em relação a religiosidade africana. Isto é, um grande aumento, e com uma aversão que é desproporcional a capacidade de defesa dos praticantes afro-brasileiros.

A aversão às religiões de matriz afro extrapola as barreiras religiosas porque ela está impregnada do racismo contra as populações africanas. Esta aversão é o resultado dos mais de 300 anos de escravidão, e de um processo de aculturação que fez com que os brasileiros elaborassem seus princípios e valores tendo como modelo o que era mais aceito pelos antigos colonizadores europeus. Logo, para ser aceito era necessário se parecer com os europeus, viver como os europeus, e crer nos deuses europeus. Não podemos entender o sincretismo religioso como uma mera camuflagem. Mas, também, e principalmente, como uma tentativa de fuga de uma possível opressão perpetrada pela sociedade. É o medo da reprovação social que faz com que as pessoas se digam católicas “não-praticantes”.

Foi a instituição religiosa Igreja Católica Apostólica Romana quem primeiro demonizou as crenças nativas africanas. E, atualmente, são as igrejas pentecostais as que mais se dedicam ao combate às religiões afro. Existem religiões pentecostais que têm na completa eliminação dos cultos afro um ideal a ser seguido. Evidentemente, isto não é uma generalização, pois há cristãos evangélicos tolerantes e sem preconceito. Contudo, é inegável que para muitos evangélicos o “diabo” tem nome africano. O curioso é que nas religiões pentecostais há grande percentual de afro-descendentes (pardos e negros), o que revela que a aversão aos orixás também extrapola as barreiras de classificação “racial”.

Exú: de orixá mensageiro a diabo cristão.

Dentre os orixás mais incompreendidos está Exú (também conhecido como Legbá ou Elegbara entre outros nomes). Este orixá foi erroneamente associado ao diabo cristão ou Satanás. Tal equívoco foi fruto de uma incompreensão dos religiosos cristãos quando descobriram a religiosidade dos povos da África Ocidental.
"Comumente confundido com a figura de Satanás, o que é um absurdo dentro da construção teológica yorubá, posto que não está em oposição a Deus, muito menos é considerado uma personificação do Mal. Mesmo porque nesta religiãonão existem diabos e entidades carregadas únicas e exclusivamente por coisas ruins como fazem as religiões cristãs, estas pregam que tudo o que acontece de errado é culpa de um único ser que foi expulso, pelo contrário, na mitologia yorubá, bem como no candomblé cada uma das entidades tem sua porção positiva e negativa, assim como nós mesmos."
(Fonte: Wikipédia)
Exu é o orixá mensageiro entre o orun (mundo espiritual) e o aiye (mundo material), e que era encarregado de levar as oferendas para os outros orixás, e trazer aos fiéis os recados deles. Esse poder foi traduzido mitológicamente no fato de Exú habitar as encruzilhadas, cemitérios, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas e saídas. Provocador, indecente, astucioso e sensual, Exú é considerado o mais humano dos orixás, pois seu caráter lembra o de um ser humano que de um modo geral é muito mutante em suas ações e atitudes.

FONTE/ADAPTAÇÃO: http://www.mortesubita.org/jack/cultos-afros/teoria/na-terra-dos-crentes-o-diabo-tem-nome-africano/view

2 comentários:

T.S disse...

Arrasou, Prisca.

Luciana Onofre disse...

Olá tomei a liberdade e linkei seu blog no meu.

Um abraço,

Luciana Onofre

Germinando
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Lucy in the Sky with the Daemons
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