domingo, 22 de abril de 2012

O Deus Pã não morreu

O Deus Pã não morreu,
Cada campo que mostra
Aos sorrisos de Apolo
Os peitos nus de Ceres —
Cedo ou tarde vereis
Por lá aparecer
O deus Pã, o imortal.

Não matou outros deuses
O triste deus cristão.
Cristo é um deus a mais,
Talvez um que faltava.
Pã continua a ciar
Os sons da sua flauta
Aos ouvidos de Ceres
Recumbente nos campos.

Os deuses são os mesmos,
Sempre claros e calmos,
Cheios de eternidade
E desprezo por nós,
Trazendo o dia e a noite
E as colheitas douradas
Sem ser para nos dar o dia e a noite e o trigo
Mas por outro e divino
Propósito casual.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Samhain está chegando...

"Cailleach fala:

Meus ossos são frios, meu sangue ralo.
Eu busco o que é meu.
Eu busco o que ainda não foi semeado.
Eu busco os animais para cavernas quentes e mando meus animais para o Sul.
Eu ponho meus ursos para dormir e mudo o pelo de meus gatos e cães para algo mais quente.
Meus lobos me guiam, seu uivo anuncia minha chegada.
Os cães, lobos e raposas cantam a canção da noite,
a serenata da anciã, a minha canção.
Eu digo sim a vida e agora digo sim a morte.
Eu serei a primeira a ir para o outro lado.
Eu trago o frio e a morte, sim, pois este é meu legado.
Eu trouxe a colheita e se você não colheu suas maçãs
eu as cobrirei de gelo.
Após o Samhain, tudo o que fica nos campos me pertence."