sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Manual do Ódio

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Enquanto isso – o que não é de causar espanto, nesta conjuntura – um livro que atenta contra os direitos civis de homossexuais, bissexuais, transexuais e travestis. A Avon, que distribuía o livro, retirou-o de seu catálogo em junho, graças a protestos e a um abaixo-assinado que rapidamente se espalharam pelas redes sociais. Mas ainda está à venda em livrarias e lojas online.
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Assinado pelo pastor norte-americano e presidente da Traditional Values Coalition Louis Sheldon, e lançado no Brasil pela editora Central Gospel, do pastor Silas Malafaia (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), “A Estratégia – O plano dos homossexuais para transformar a sociedade” (“The Agenda“) revela a fonte da qual Malafaia, o deputado federal Jair Bolsonaro e o senador Magno Malta, entre outros da mesma cepa, copiam seu discurso contra a comunidade LGBT.
O discurso deles é um plágio descarado do livro (…) e de outros semelhantes e anteriores a esse,” afirma Sergio Viula, um dos fundadores do MOSES (Movimento pela Sexualidade Sadia) e autor do livro “Em busca de mim mesmo”.
Plágio é o menor dos problemas em relação à “Estratégia” propagada pelos pastores. Vale a palhinha:
O livro começa retratando gays em geral como gente perigosamente promíscua, muito fã de saunas onde o sexo rola solto. Mas o que será que acontece em casas de massagem, casas de prostituição e clubes de troca de casais para heterossexuais, que também têm seu público numeroso e cativo? Ora bolas, a heterossexualidade também possui variadas opções de espaços de recreação sexual. Porém, “A Estratégia” retrata os gays como os únicos tarados do pedaço. O que, aliás, não diz nada sobre sexualidade em si.
Mas é assim que esse livro joga.
Na página 6, o pastor Louis Sheldon equipara os gays a terroristas:
“Não são apenas os terroristas estrangeiros que devemos temer hoje. Os radicais mais perigosos que ameaçam nosso estilo de vida são aqueles que vivem entre nós. Eles já têm posições privilegiadas no governo, nos tribunais e em nossas escolas e faculdades, e até mesmo no mundo dos negócios, e você pode ter certeza de que eles nos destruirão se não tomarmos medidas para derrotar o movimento radical deles agora.”
Para o autor de “A Estratégia”, os gays são piores do que terroristas e devem ser derrotados se a sociedade quiser viver em segurança. Tal discurso é um discurso de ódio. E qualquer publicação que propaga e incita discurso de ódio merece ao menos uma investigação e algumas denúncias ao Ministério Público.
Na página 19, Sheldon declara guerra, oficialmente, contra os homossexuais, empregando terminologia de guerra, como relata Luiz Henrique Coletto, presidente do Conselho LGBT da Liga Humanista Secular do Brasil, que comprou o livro para estudá-lo e rebater o discurso do autor em um vídeo veiculado no Youtube, com algo que o texto original do pastor não possui: lógica.
“A Estratégia” afirma que “O debate moral a que políticos e analistas de pesquisas de opinião se referem como guerra cultural na América é uma guerra verdadeira no sentido restrito da palavra, o resultado é que estamos engajados em uma luta de vida ou morte, com batalhas ferozes, baixas verdadeiras, e consequências muito reais para nós, que abracamos uma compreensão tradicional de fé, família e liberdade, o desafio não poderia ser maior.”
É uma guerra declarada e os gays são os terroristas.
Na página 35 o pastor Louis Sheldon afirma que “por quase toda uma década a mídia liberal tem alardeado a notícia de que pesquisadores encontraram a prova de que a homossexualidade é inata, genética e um comportamento normal entre considerável porcentagem da população.” O livro renega tais descobertas científicas.
“A Estratégia” é construído também em cima de várias distorções propositais.
Link para texto completo: Manual do Ódio
Autoria: CECILIA GIANNETTI






quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Alegria Pura

"Rara, como a alegria pode ser nas culturas, onde há um elo entre sexo e culpa, a liberação de si mesmo enseja o riso no ato de amar, tanto quanto no misticismo, pois devemos nos lembrar que foi Dante quem descreveu a canção dos anjos no céu como "a risada do Universo"... O enfoque ávido da sexualidade destrói sua alegria mais do que qualquer outra coisa, estancando sua fonte mais profunda e mais secreta. Por isso, não há, verdadeiramente, nenhuma outra razão para a criação, além da alegria pura." Alan Watts, Nature, Man and Woman.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mitos e Sonhos

         "O mito de acordo com a fórmula de Joseph Campbell, pode ser comparado a um "sonho coletivo" e, reciprocamente, um sonho pode ser análogo de um "mito individual". Um mito expressa os elementos próprios de uma cultura e época, do mesmo modo que um sonho compreende elementos relevantes para um determinado sonhador. Tantos os sonhos quanto os mitos, entretanto, expressam, acima de tudo, experiências que podem ser universais e poderão ter inúmeras formas. Não é necessário ser "pagão" para entender, por exemplo, o mundo erótico de Afrodite ou o humor de Hermes, assim como é possível comunicar-se com receios e desejos de outras pessoas sem compartilhar dos mesmos sonhos. Assim como há mais de uma interpretaçao possivel para um sonho, há, igualmente, muitas interpretações valiosas do mesmo mito. Uma interpretação boa ou útil geralmente produz um efeito liberador e de aprofundamento, enquanto que uma interpretação falsa produz, quase sempre, confusão. [...]
         Os mitos sao complexos. Eles não nos conduzem a ensinamentos dogmáticos. As aventuras de pessoas míticas, Deuses e Deusas, são movimentos de consciência; elas ilustram nossos conflitos inter e intrapessoais, nossa interdependencia e nossa participação no sagrado." (PARIS, Ginette. Meditações Pagãs)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Celebramos em vez de rezar

"O homem, que devia ter dez anos a mais que ela, perguntou a quem estávamos celebrando em nossos rituais. Expliquei que adorar alguém significava - segundo meu protetor - colocar esta pessoa fora de nosso mundo. Não estamos adorando nada, apenas comungamos com a Criação.
- Mas vocês rezam?
- Pessoalmente, eu rezo para Santa Sarah. Mas aqui nós somos parte de tudo, celebramos em vez de rezar."
(A Bruxa de Portobello, Paulo Coelho)