Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com essa gente que menstrua
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço as vezes parece erva, parece hera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita
Sua Boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda para ela!
Ta acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado, moço, quando ce pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque eu sou muito sua amiga
É que to te falando "na vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando volta a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos
As vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A Atlântica Perdida.
Outras vezes várias
metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, porque você ter uma cobra entre as pernas
Cai na contradição de ser displicente
Diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
Da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofia
Cozinhando, costurando
E você chega com a mão no bolso
Julgando a arte do almoço: Eca!
Você que não sabe onde está a sua cueca?
Há, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de saber e morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que é que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De Leite.
Vaca e galinha
Ora, não ofende. Enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que ta falando palavrão imundo.
Tá não homem,
Tá citando o principio do mundo.
(Luiza Lucinda)