terça-feira, 23 de março de 2010

Exibição de gays na tv

"A nota revela que 57% dos entrevistados concordam com a exibição de gays na tv. Muito me intriga o uso do substantivo feminino exibição, que significa "apresentar ao público". Neste caso, fiquemos com a vitrine onde o gay é objeto de observação e análise, portanto, não componente da vida comum, mas sim, tratado como atração a ser consumida pela audiência. Não se trata de representar o mundo em sua diversidade natural, trata-se da exibição de gays, segundo a pesquisa entre os telespectadores. Acho que a resposta correta seria: "Olha, eu discordo de qualquer exibição de humanos no sentido de objeto exótico ou anomalia". Quantos por cento concordam com a exibição de paraplégicos na televisão? E gordos? E índios? E... negros. Cheguei onde eu queria chegar, na Venus de Hotentote. Nascida em 1789 na etnia Kosha da África do Sul, esta negra de nádegas gigantescas foi enjaulada e exibida como atração nos circos da Europa dos 1800. Qual a porcentagem de humanos que concordavam com esta exibição? É possível exibir qualquer tipo de humano para entretenimento? Não seria melhor usar nestas pesquisas questões tipo "Você acha importante tratar da questão homossexual nos programas de tv?" Porque, do contrário, a pergunta "É licito exibir gays assumidos na programação da tv aberta?" torna natural que se concorde que se pode exibir as pobres bichinhas em jaulas modernas (as telinhas), assim como a antiga Venus foi exibida. Não vejo grandes diferenças entre quem pagava o ingresso para admirar a coitada da Sartjie Baartman (nome da Venus) e estes que respondem sem questionar se concordam ou não com a exibição de gays na tv. Ainda estamos no grande circo. Sempre fomos considerados estranhos. É hora de ponderar sobre a sina do esqueleto desta Venus, que tanto sucesso fez diante da corte branca: depois de autópsia, os exibidores chegaram à maravilhosa conclusão que se tratava de uma mulher inteligente e de grande capacidade de memória, portanto, sim, ela tinha um coração. Os ossos desta alegoria da imcopreensão humana sobre nossa diversidade ficaram em exibição no Museu do Homem em Paris, até a década de 80 no século 20. Em 2002, os restos mortais da venus, a pedido do presidente Mandela, retornaram a sua tribo. Mais de 200 anos de exibição! E você aí, quantos por cento da sua inteligência concorda com a exibição de gays na tv?"


(um artigo de Milton Cunha no jornal O Dia, que pra minha surpresa achei bem interessante.)

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Finalmente, as teorias estruturalistas de linguagem situaram o sexismo nas próprias origens da cultura. Se as linguagem que as mulheres falam, na qual devem falar, é matizada no sexismo, um sexismo mais profundo que um léxico revisável, se a gramática da linguagem em si reflete o pensamento masculino, então nada que as mulheres possam dizer ou escrever na linguagem existente jamais poderá ser verdadeiramente feminista."
(in Teoria Feminista e as Filosofias do Homem, Andrea Nye)