quinta-feira, 2 de setembro de 2010

“- Um homem de conhecimento é aquele que seguiu honestamente as dificuldades de aprendizagem – disse ele. – Um homem que, sem hesitar, foi tão longe quanto pôde para desvendar os segredos de poder e da sabedoria.

- Qualquer pessoa pode ser um homem de conhecimento?

- Não, não qualquer pessoa.

- Então, o que é preciso fazer pra se tornar um homem de conhecimento?

- O homem tem de desafiar e vencer seus quatro inimigos naturais.

- Então, qualquer pessoa que conseguir vencer esses inimigos pode ser um homem de conhecimento?

- Qualquer pessoa que os vencer torna-se um homem de conhecimento.”

“- Quando um homem começa a aprender, ele nunca sabe muito claramente quais são seus objetivos. Seu propósito é falho, sua intenção, vaga. Espera recompensas que nunca se materializarão, pois não conhece nada da dificuldade da aprendizagem.

Devagar ele começa a aprender... A principio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem cresce começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.

E assim ele se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando à espreita. E se o homem, apavorado com a sua presença, foge, seu inimigo terá posto fim a sua busca.

- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?

- Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento. Talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo; de qualquer forma será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto fim aos seus desejos.

- E o que ele pode fazer para vencer o medo?

- A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito orna-se mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.

- Isso acontece de uma vez, Dom Juan, ou acontece aos poucos?

- Acontece aos poucos, e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.

- Mas o homem não terá medo outra vez, se lhe acontecer alguma coisa nova?

- Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu clareza... Uma clareza de espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece os seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.”

( in Erva do Diabo, Carlos Castañeda)

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